Lembro como se fosse ontem, meu amigo local Bryan me levando à rodoviária de Reno, para uma viagem que, em geral, dura quatro horas e meia (de busum). Era meu ultimo dia naquela cidade, que havia me abrigado para uma temporada de três meses fazendo snowboard – que foi se estendendo por quase cinco.
Havia passado o dia inteiro me sentindo muito mal. Não sei se era a descarga de adrenalina ou já a nostalgia acelerada que viria a sentir da neve. Findo o dia, tentei dormir.
Tudo vale à pena... (?!)
Já viu isso em algum lugar? É o tipo de cena que acontece sempre com algum amigo próximo, e sempre damos risada. Dessa vez, foi comigo, e não foi nada engraçado. Sentiu o drama?
Depois da exaustiva viagem, oito horas apertado num ônibus sentido cheiros que variavam dos nachos com cebola à picles em conserva, chego em São Francisco. Meio-dia em ponto. Meu vôo sairia pouco depois da uma da madrugada. Eu teria o dia inteiro pela frente. E nada do enjôo passar. Só pensava em chegar logo ao aeroporto.
Não vale nem tentar explicar a ansiedade. Era deliciosamente e ao mesmo tempo angustiantemente infantil. Inexplicável.
O sonho estava ali, tão perto, e ao mesmo tempo ainda tão longe. Inevitáveis 22 horas, entre pousos, decolagens e fusos-horários me separavam do sub-consciente, incipiente. De quase tudo que eu sempre sonhei.
22h45. Acordei no aeroporto. Não sabia se era bom ou ruim; perdi o dia, mas, pelo menos, o tempo passou.
Em momentos já estava na fila de check-in. Estranhei a rapidez do embarque e do vôo. Pudera, dormi o tempo todo. Logo, já estava em Taipei, uma das escalas. Tentei, sem sucesso, comprar uma coca-cola. Nenhuma maquina de refrigerantes aceitava dólares, e, mesmo se aceitasse, todos os enlatados ali dentro vinham com rótulos em algum alfabeto impossível de ser decifrado por um brasileiro.
Droga! por quê não trouxe meu dicionário português-mandarim tradicional?
As próximas horas foram dedicadas ao êxtase total. Da janela, era possível assistir ao filminho das ilhotas passando, contornadas por barreiras de coral; tudo perfeitamente distribuido e misturado na aquarela de cores do mar, entre tons de verde, azul, e o amarelo clarinho da areia. Impressionistas, iluministas, renascentistas e etecetera que me desculpem... tanto faz. Ali, enxergava a beleza da arte do Criador.
Cuidado para não babar no teclado...
O desembarque na ilha de Bali, e o mês que veio a seguir, fica para a próxima...